Os Economistas Aterrados e a EUROPEN (Rede dos Economistas Progressistas Europeus) são dois colectivos dos economistas progressistas, um francês e o outro Europeu.
Os Economistas Aterrados deram-se a conhecer no Outono de 2010, quando publicaram um Manifesto dos Economistas Aterrados, no qual fazem uma apresentação crítica de dez postulados que continuam a inspirar diariamente as decisões dos poderes públicos por toda a Europa, apesar dos contundentes desmentidos trazidos pela crise financeira e pelos seus efeitos de arrasto, face aos quais os Economistas Aterrados colocam em debate 22 contrapropostas. Os 4 Iniciadores desta abordagem são: Philippe Askénazy, Thomas Coutrot, André Orlean e Henri Sterdyniak. A eles se juntaram mas tarde os signatários do Manifesto, colegas de França e do estrangeiro, e igualmente não-especialistas que anseiam veementemente ver a economia libertar-se do neoliberalismo. A nossa acção traduz-se em publicações (notas, artigos, comunicados de imprensa, livros) e intervenções em reuniões públicas, nos meios de comunicação, que o solicitem, a fim de propor alternativas para as políticas de austeridade preconizadas pelos governos atuais.
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Euro-pen Rede dos Economistas Progressistas Europeus Por iniciativa dos Economistas Aterrados franceses, criou-se uma rede europeia de economistas progressistas em Novembro de 2012 em Florença. Atualmente, o Euro-Pen abrange 9 países europeus. Este último grupo é constituído por Econospheres (Bélgica), Sbilanciamoci (Itália), Economuestra (Espanha), Transnational Institute, Critical Political Economy Network, Economists against austerity (GB) ) e pelas redes europeias, Euromemorandum e Transform!
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Estes economistas estão convencidos de que a maioria das políticas económicas aplicadas desde há três décadas e, mais particularmente, desde a crise aberta em 2008 só fazem com que a situação económica, social e ecológica de Europa se continue a degradar ainda mais. Baseadas na corrente teórica dominante na economia, estas políticas têm como ponto essencial comum o de pressupor que uma maior concorrência nos mercados (dos bens, serviços, financeiros, trabalho e dos direitos de poluir…) é a única maneira de melhorar a situação no seu conjunto. Acreditamos no entanto que para restabelecer a situação financeira das administrações públicas, ou seja, dos governos, para criar empregos de qualidade para todos e iniciar imediatamente a transição ecológica, outras políticas são necessárias. Elas teriam por finalidade promover uma distribuição mais equitativa da riqueza e o fim da dominação dos mercados financeiros sobre o financiamento das empresas e dos Estados europeus. De facto, o aumento da desigualdade e a dominação dos atores das finanças sobre a economia levam a que se tenham desmoronado os sistemas sociais dos Estados europeus (essenciais durante a crise), a que se faça pressão sobre os assalariados degradando quer as suas condições de trabalho quer as suas condições de vida e levam igualmente a que se confisquem os meios de financiamento necessários para a transição ecológica (porque são muito pouco rentáveis de acordo com o padrão de rentabilidade dos mercados financeiros). Os mercados financeiros orientam as enormes massas de liquidez para investimentos que se revelam pouco úteis, social e ambientalmente. Eles são criadores de bolhas especulativas no setor imobiliário. A Europa, no seu conjunto, sofre de uma grave crise social e da ausência de um verdadeiro projecto democrático fundado com base numa transição ecológica e numa melhoria da qualidade de vida.
Estamos convencidos de que estas preocupações sociais e ambientais são partilhadas pelo conjunto dos povos da Europa que sofrem com a crise e com as injustas políticas de austeridade postas em prática desde 2010. No entanto, a maioria dos economistas convidados na qualidade de peritos junto dos média aconselha a continuação da utilização destas políticas. Nós queremos tornar visível ao nível europeu uma outra análise da económica que pode não só levar-nos a sair da crise, mas também a propor vias credíveis para a transição ecológica. Para isso, enquanto Economistas Progressistas organizamos uma Volta à Europa. Esta Volta realizar-se-á em nove etapas. Cada etapa consiste numa conferência a duas vozes: um economista local e um economista aterrado ou da rede Euro-Pen. Este olhar cruzado sobre a crise e as suas soluções irá mostrar o que temos em comum na Europa para além das nossas especificidades nacionais. Este comum reagrupa a justiça social e económica, a democracia e a preservação do meio ambiente. Esta Volta à Europa inscreve-se no necessário debate público que se deve realizar antes das eleições parlamentares europeias em 2014.
A Volta iniciar-se-á na Bélgica, em Bruxelas e irá pôr em evidência como é que a desindustrialização, e ela está na origem do desemprego e da precariedade, tem como origem a financeirização das grandes empresas industriais europeias e as políticas europeias da concorrência, centradas unicamente sobre a competitividade do território. A segunda etapa terá lugar em Madrid. Incidirá sobre a importância da redução das desigualdades para encarar uma saída credível da crise. A terceira etapa terá lugar em Portugal, em Lisboa e Coimbra. Ela evocará o futuro do euro. A moeda única europeia, a principal realização da União Europeia, tem acentuado as disparidades económicas entre os países e enfraquecido o financiamento de Estados. A questão do seu futuro deve, portanto, deve ser levantada. Roma e a Itália serão a quarta etapa. Esta incidirá sobre a juventude e a crise. Os jovens são particularmente atingidos pela crise que, degradando o emprego, impede todas as perspectivas de inserção social de toda uma geração. Isto contribui para o aumento das desigualdades. As políticas de "deflação salarial competitiva" atingem hoje a grande maioria dos Estados europeus. Desde o início do século XXI, a pressão sobre os salários na corrida para a competitividade foi particularmente forte na Alemanha. A etapa de Berlim incidirá sobre os salários na Europa. As políticas de austeridade que não são apenas um erro social mas também um erro económico foram conduzidas desde muito cedo e de forma muito importante na Grã-Bretanha. Elas estarão no centro do debate durante a etapa de Londres. A Grécia é, definitivamente, o país que mais sofreu com a crise europeia. As ajudas ao Estado grego foram condicionadas à aplicação de políticas de redução exorbitantes e anti-sociais das despesas públicas. Assim, os serviços públicos gregos, em particular, a educação e a saúde, estão hoje exangues. A etapa de Atenas mostrará que os serviços públicos de saúde representam uma via de saída para a crise e não um problema. Na Irlanda, discutiremos o papel do sistema bancário, totalmente voltado para os mercados financeiros, e o da especulação no desencadear e no aprofundamento da crise económica e nas dívidas públicas. Por fim, a última etapa será em França, em Paris. Queremos mostrar que um verdadeiro projeto de transição ecológica feito na base de um outro modo de produção e de consumo é possível e é, sobretudo, urgente. Este não pode passar pelas políticas europeias atuais de mercantilização dos direitos de poluir.